Padre Lucas Altmayer, 19/10/2025 20:27
Queridos amigos,
Acabamos de ouvir o Evangelho em que Jesus compara os Céus a uma festa de casamento. O rei enviou seus servos para chamar os convidados para a festa de casamento de seu filho, mas muitos não quiseram ir. Ao final do Evangelho, vemos que aqueles que não atenderam ao convite do Rei foram lançados em um lugar de tristeza e dor eternas.
Podemos entender a palavra “ouvir” de duas maneiras. A primeira é simplesmente escutar algo, perceber com os ouvidos. Nesse sentido, os convidados até ouviram o convite do Rei. Mas há um segundo sentido: ouvir como acatar, obedecer e responder ao chamado. É nesse sentido que os convidados não ouviram: ouviram, mas não obedeceram, não aceitaram o convite, e assim se afastaram do Banquete do Rei.
Deus, meus amigos, também nos chama e nos convida para o Seu Banquete. Ele nos chama ao Céu, caríssimos, e ainda mais: nos chama a começarmos o Céu aqui e agora, neste mundo!
É preciso que saibamos ouvir a voz de Deus. Como diz o Salmo: “Hoje, se ouvirdes a voz de Deus, não endureçais o vosso coração.”
O preço de não ouvir a voz de Deus é altíssimo: é o preço da nossa felicidade eterna.
Shemá Israel! Este é o primeiro preceito: Ouve! Ouve, Israel! Todo o nosso edíficio de santidade dependerá da maneira como estamos ouvindo a Deus!
Se quisermos que a nossa vida tenha sentido; se quisermos saber se estamos no bom caminho; se quisermos ser verdadeiramente felizes aqui neste mundo e no outro, é necessário ouvir a voz de Deus, meus amigos!
É preciso clamar ao Espírito Santo, para que Ele nos faça ouvir Sua voz em nós. E não se trata de doutrina carismática: é a pura e tradicional doutrina espiritual da Santa Igreja. A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Jesus Cristo, é o Verbo de Deus, é a Palavra de Deus, e toda Palavra foi feita para ser ouvida.
Devemos ouvir a Deus que nos fala, por Jesus Cristo, o Verbo encarnado.
É preciso, meus amigos, que aprendamos a ouvir a voz de Deus, que quer nos falar sempre.
E o que Deus quer nos dizer? Ele nos chama à santidade, à vida de amizade com Ele. Ele nos quer seus amigos, e por isso o nosso coração fica inquieto: é a voz de Deus gritando aos nossos corações, chamando-nos até Ele!
Como diz Santo Agostinho: “Tarde te amei, beleza antiga e tão nova. Eis que estavas dentro e eu te procurava fora de mim. Mas Tua voz venceu, Teu grito rompeu minha surdez.”
Por que Santo Agostinho amou tão tarde? Porque não ouviu a voz de Deus. Fez-se surdo ao chamado de Deus. Foi barulhento.
A voz de Deus venceu na vida de Agostinho porque ele ouviu e acatou essa voz. Que também possamos ouvir e responder ao chamado divino, com coragem e amor.
A Santa Igreja chama de graças atuais a esta voz de Deus falando em nós. Nossa salvação, nossa alegria e o verdadeiro sentido de nossas vidas dependem de nossa correspondência a esta voz.
Mas como ouvir a voz de Deus? Em primeiro lugar, é necessário parar de fugir de nossos deveres. Deus nos fala quando nos chama a cumprir aquilo que Ele espera de nós.
Saibamos: quando fugimos de nossos deveres, estamos fugindo de Deus.
Um pai ou uma mãe que negligencia suas responsabilidades, tentando viver como se não tivessem uma família, fogem da voz de Deus. Um aluno que não estuda, que não é sincero nas provas, que não se esforça, também foge da voz de Deus. Um sacerdote que não reza seu breviário, cuja missa não é oferecida a Deus, foge de seus deveres, foge da voz de Deus.
Cada um de nós, quando deixa de fazer aquilo que sabe que deve fazer, foge da voz de Deus, porque foge de seus deveres. Não adianta rezar pedindo a Deus que nos mostre Sua vontade se não cumprimos aquilo que já sabemos ser nosso dever: abandonar más amizades, evitar lugares impróprios, corrigir nossas palavras — cada um segundo seu estado de vida.
Os santos são aqueles que sabem o que devem fazer e fazem.
E notemos: os que cumprem a vontade de Deus, que realizam seus deveres, estão em paz mesmo diante das dificuldades. Os que não cumprem, que fogem de seus deveres, vivem angustiados, apreensivos, tristes e preocupados.
A verdadeira paz é fruto do Espírito Santo, e só a encontramos quando ouvimos a voz de Deus e a realizamos com todo o coração.
Para ouvir esta voz, caríssimos amigos, uma coisa é necessária: silêncio. Muitos falam do Espírito Santo, mas poucos falam com Ele. Poucos realmente ouvem a voz de Deus no profundo da alma e da consciência, porque não silenciamos.
O maior barulho da vida espiritual é, sem dúvida alguma, a distração. A distração impede nosso silêncio, ou seja, o fiel cumprimento dos nossos deveres.
Se falta silêncio, é sinal de que falta uma vida espiritual séria. Se falta silêncio, é sinal de que nos falta verdadeira união a Deus.
É preciso aprender a tomar ao menos alguns instantes do nosso dia para deixar de lado celulares, livros, filmes, séries, amigos e conversas, e, na calma do coração, silenciar para ouvir a voz de Deus. Só assim poderemos perceber o que Ele tem a nos dizer.
Quanta falta de progresso na vida espiritual, quanta incerteza sobre a vocação a seguir, quanta imaturidade e carência de vida espiritual séria!
Tudo isso porque não ouvimos a voz de Deus.
Na Missa de hoje, caríssimos, peçamos a Deus que nos ensine a ouvir Sua voz. Que tomemos consciência, sintamos vergonha de tanto barulho inútil, e que aprendamos a silenciar para ouvir claramente o Senhor.