Obedeça como um católico: duc in altum

Sermão

Padre Lucas Altmayer, 23/08/2025 16:35

Queridos amigos,

Neste santo Evangelho de hoje, nosso Senhor sobe à barca de Simão Pedro, e depois de ter pregado à multidão, diz-lhe: Duc in altum – “Faze-te ao largo” – e lança as redes para a pesca. Pedro, homem experimentado no ofício da pesca, acabara de passar a noite toda trabalhando sem resultado. Mas, mesmo assim, responde com humildade e fé: “Sobre a tua palavra lançarei a rede.” E então, pela obediência da fé, acontece o milagre: uma pesca tão abundante que as redes quase se rompiam.

Nesta cena tão rica e profunda, contemplamos três verdades fundamentais sobre a virtude da fé, que desejo meditar convosco.

1. As obras só são vivas e meritórias quando feitas com a fé

Pedro havia lançado as redes a noite inteira. A mesma obra, o mesmo gesto, feito com toda a perícia humana, mas sem a ordem de Cristo, sem fé: não produziu nada. Quando, porém, se submete à palavra de Jesus – in verbo tuo, “sobre a tua palavra” –, a obra se transforma. A rede, antes vazia, agora se enche. A pesca, antes inútil, agora é milagre.

Isso nos ensina que as obras humanas, mesmo as boas, mesmo as honestas, quando feitas sem a fé, não têm mérito sobrenatural. Podem ser boas no plano natural – podem ajudar o próximo, aliviar sofrimentos, contribuir para a ordem social – mas não são vivificadas pela graça, e por isso não contam para a vida eterna.

São Paulo ensina: “Sem fé é impossível agradar a Deus” (Heb 11,6). A fé é a raiz da justificação, o princípio da vida sobrenatural. É ela que dá valor eterno às nossas ações, pois une a nossa vontade à de Deus. Uma esmola dada com fé, um trabalho feito com fé, um sacrifício aceito com fé – tudo isso se torna ouro puro aos olhos de Deus. Sem fé, porém, mesmo as maiores obras podem ser como bronze que soa ou sino que retine.

2. A fé sobrenaturaliza a nossa vida: duc in altum

Nosso Senhor não pediu a Pedro algo novo, estranho ou místico. Não lhe disse: “Abandona tua rede”, ou “Vai ao templo rezar.” Ele pediu que Pedro fizesse exatamente aquilo que sempre fizera: pescar. Mas pediu que o fizesse por fé, à sua palavra. O mesmo ato humano foi elevado pela obediência à Palavra divina.

Isso é o que quer dizer duc in altum – “Avança para águas mais profundas.” Não é apenas um convite à ousadia, mas uma ordem de Cristo para que façamos da nossa vida ordinária uma vida extraordinária: pela fé.

Quantos católicos vivem como se a fé fosse apenas um ornamento para momentos extraordinários: batismo, casamento, doença, morte... Mas a fé deve ser o princípio da vida inteira. O trabalho, o estudo, o descanso, as lutas do lar, a educação dos filhos, tudo isso deve ser feito com fé, na presença de Deus, segundo a doutrina da Igreja. A fé não nos afasta do mundo, mas nos permite vivê-lo à luz de Deus, com sentido, com mérito, com esperança.

3. Como crescer na fé?

A fé é um dom, mas um dom que pode – e deve – crescer. E a Igreja, como boa mãe, nos oferece os meios para isso.

Primeiro: Ouvir a Palavra de Deus, como Pedro ouviu. A fé nasce da pregação, e a pregação verdadeira é aquela feita em nome da Igreja, com fidelidade ao Evangelho de Nosso Senhor. Pedro não creu às cegas: ele escutou a pregação do próprio Cristo, e reconheceu Sua autoridade. Hoje, essa voz continua a ressoar através da Igreja. Por isso, é preciso conhecer Jesus Cristo através do que a Igreja ensina sobre Ele.

Segundo: Estudar a doutrina católica. Um católico que não conhece o catecismo não poderá crer com firmeza, nem viver com retidão. Não se pode amar o que não se conhece. Estudemos, pois, com seriedade, um catecismo confiável – o de São Pio X, o Catecismo Maior de São Pio X, o Catecismo Romano, o Compêndio da Doutrina Cristã – segundo a reta tradição da Igreja. Não negligenciemos a nossa educação na fé.

Terceiro: Fazer atos de fé. A fé cresce quando é exercida. Pedro não entendeu o pedido de Jesus, mas confiou: “Senhor, por tua palavra lançarei a rede.” Quantas vezes o Senhor nos pede coisas que não compreendemos: um sofrimento aceito, um perdão dado, uma renúncia difícil, um caminho que parece estranho... Nessas horas, é preciso ter a sabedoria de descansar em Deus. Descansar na fé, como Pedro descansou, mesmo depois de uma noite de fracasso.

Aqui podemos ligar com a Epístola: São Paulo nos lembra que sofremos, gememos, esperamos, mas com uma esperança firme, com a certeza de que “os sofrimentos do tempo presente não são comparáveis com a glória futura que há de se revelar em nós.” A fé é o que nos dá essa segurança. Sem ela, o sofrimento é absurdo. Com ela, o sofrimento é caminho de salvação.

Caríssimos, a pesca milagrosa é imagem da nossa vida cristã. Lançamos redes todos os dias. Trabalhamos, sofremos, amamos, lutamos. Mas se quisermos que esses atos tenham valor eterno, precisamos da fé. Que não haja um só dia, um só gesto, uma só decisão sem esta luz. Que vivamos sempre sob o olhar de Deus, à palavra de Cristo, com o espírito da Igreja.

Peçamos à Virgem Maria, Mãe da Fé, que nos ajude a avançar para as águas profundas, e que nos ensine a fazer tudo o que Seu Filho nos disser.