O narcisismo: terrível doença da alma e da mente

Neste domingo, o Santo Evangelho nos ensina a ocuparmos o lugar que Deus reservou para nós! Nosso Senhor Jesus Cristo condena a atitude de querer, para si mesmo, o melhor lugar em um banquete. O que significa querer o melhor lugar em um banquete? Significa que alguém deseja, com egoísmo, os destaques e as atenções.

O que faz com que o homem se creia digno de ser prestigiado e honrado pelos outros, de ser sempre o centro das atenções? Alguém só pode desejar tudo isso por causa de uma alta consideração que tem por si mesmo. Tão alta consideração que pensa: eu sou quem sou, e não é possível que eu não seja reconhecido por isso. Para mim, o mais destacável; para mim, o melhor; para mim, todas as atenções. Isto é, meus caros, o casamento entre o orgulho e a soberba; eles tiveram um filho tão egoísta quanto e o batizaram de “narcisismo”.

É próprio do espírito narcisista pensar que tudo deve girar em torno do reconhecimento da sua própria personalidade. O narcisismo destrói aquilo que Deus quer de nós, ou seja, que ocupemos não o melhor lugar, mas o último. O que significa ocupar o último lugar? Significa, meus amigos, ocupar o lugar que Deus reservou para cada um de nós, aquele que é conveniente à nossa própria condição. Significa ocupar aquele lugar em que a virtude da humildade nos coloca: o nosso devido lugar.

Quem é o narcisista? Um grande egoísta. O narcisista é alguém que não pode receber contrariedades. Se as recebe, logo se irrita, fica nervoso e, frequentemente, cai no pecado da ira. Uma pessoa que não aceita as contrariedades da vida, que vão de encontro à sua própria personalidade, dificilmente saberá viver na humildade. Este egoísmo exacerbado também faz com que o indivíduo tenha um senso exagerado de superioridade e importância.

O narcisismo é uma forte tentação nos meios tradicionais. Nós, meus filhos, costumamos pensar que, por termos excelentes meios de santificação, somos automaticamente excelentes, os melhores; pensamos que somos superiores a tudo e a todos. E o católico narcisista sempre irá querer ser reconhecido pela sua superioridade.

Outro sintoma do narcisista é a sua crença de ser especial e único. Para este egoísta, não há outro como ele! Este tipo de católico não suporta as vias ordinárias da vida espiritual e, como resultado, ele quer sempre algo particularíssimo, inovador; algo que somente ele pratica. Afinal de contas, ele é um católico único, é singular e especial; portanto, este católico narcisista precisa de meios tão únicos e especiais quanto ele para se salvar.

Um narcisista preocupa-se, na sua imaginação, com o sucesso, o poder, o brilho e a beleza que devem ser tudo o que diz respeito a ele. Para que os outros convivam com ele, devem brilhar menos do que ele, mas mais do que todo mundo, mais do que todo o “resto”. Ilude-se de que encontrará para si um companheiro perfeito: o mais bonito, o mais rico, o que tem mais brilho (desde que não brilhe mais do que ele). Frequentemente, tais narcisistas acabam sozinhos... Tudo na vida de um narcisista é decepção. A pessoa perfeita não o quer, já que, no fundo, o narcisista não quer ninguém, mas quer pessoas que sejam eco e reflexo dele mesmo: Narciso acha feio tudo aquilo que não é espelho.

O narcisista tem o “dom” de monopolizar as conversas. Numa discussão, ele sempre vai querer mostrar que sabe de tudo e tem uma opinião sobre toda e cada coisa. Se ele participa de uma conferência ou formação, é para contribuir com o formador, nunca para perguntar. O narcisista tem sempre a tendência de menosprezar as pessoas que ele acaba por considerar como inferiores a ele.

Esse transtorno narcisista, meus amigos, é um verdadeiro perigo para a nossa vida espiritual. No interesse infindável de sempre buscarmos os melhores lugares, os que mais brilham, para nós mesmos, a consequência é que nós abandonamos a humildade, esta virtude que nos faz ocupar o nosso devido lugar segundo Deus. Um narcisista que não se vence a si mesmo não poderá progredir na vida espiritual.

Meus amigos, Deus resiste aos soberbos e aos orgulhosos de coração, pois é Ele o único digno de toda honra e glória. E a única pessoa na qual Deus pode trabalhar é a pessoa humilde. Quanto mais ocuparmos o lugar que Deus quer e reserva para nós (e a humildade é este lugar), tanto mais Deus poderá fazer grandes coisas em nós.

Foi assim com a Virgem Maria. O Poderoso fez nela grandes coisas, pois viu a humildade de sua Serva. O narcisismo, este vício egoísta, filho do nosso orgulho e da nossa soberba, nos arruinará; pois aquele que se exalta será humilhado. Mas ocuparmos o lugar que Deus nos reservou, combatendo o nosso narcisismo, nos elevará, pois quem se humilha, quem diminui para que Ele cresça, esse será exaltado.