Padre Lucas Altmayer, 23/04/2025 20:32
Novi et aeterni Testamenti
Queridos amigos,
O que dizer neste dia, senão repetir as palavras de São João Evangelista: “Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo que sua hora havia chegado de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
Jesus havia amado os seus durante sua vida terrestre; Ele os amou até o fim. O Apóstolo que Jesus amava nos fala deste amor extremo de Cristo momentos antes de narrar a instituição da Eucaristia e do sacerdócio católico. Assim, São João dá como prova suprema do amor de Cristo por nós — que nos amou até o fim — a instituição da Eucaristia. Parece que a Eucaristia é, para São João, uma prova de amor que está acima mesmo da paixão e da morte de Cristo.
Nos textos sagrados, especialmente nos escritos de São Paulo, a paixão é mostrada como o testemunho da obediência do Cristo ao Pai. O Filho nos salvou pela obediência ao Pai. Mas Jesus, o Filho, que deu seu sofrimento e sua morte como prova de obediência ao Pai, nos dá, a nós, a instituição da Eucaristia como prova suprema do seu amor: “tendo amado os seus, amou-os até o fim”.
Na verdade, o que faz Jesus na Eucaristia? Ele dá seu corpo imolado, sua carne, seu sangue vertido; Ele se dá completamente a nós, para se tornar nosso alimento, nossa bebida. Ele amou os seus completamente, até o fim. É preciso interpretar este texto assim: Ele amará os seus, todos os cristãos, até o fim. Ele os amará pela Eucaristia, testamento Novo e Eterno do seu amor por nós. Ele amará os seus pela Eucaristia, pelo Santo Sacrifício da Missa, que se celebra todos os dias sobre os altares da terra. Ele amará os seus pela comunhão eucarística, participação dos seus no seu Santo Sacrifício.
A Eucaristia é o Novo e Eterno Testamento de Nosso Senhor Jesus; é a herança de seu amor por nós; é a entrega absoluta, até o fim — in finem — do seu amor: “tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”, amou-os até se fazer Eucaristia.
Mas, meus caros, onde está guardado este Testamento? Onde se encontra o cofre que armazena as joias do Testamento que nos foi legado por Cristo? Na Santa Missa, meus amigos, na Santa Missa!
A Santa Missa é o relicário do amor extremo de Cristo. Não é lembrança, é presença! Porque ali, em cada altar consagrado, é guardado o testamento do Esposo fiel, que, antes de morrer, deixou à sua Esposa — a Igreja — o dom mais precioso: a perpetuação do seu amor sacrificial.
Que custodiante mais fiel poderia haver do amor de Cristo do que o Sacrifício da Missa, onde cada palavra é eco da Última Ceia e cada gesto é memória do Calvário? A Missa é a chama que não se apaga, o memorial que não se esquece, o testamento que não se perde. É Cristo amando ainda, Cristo oferecendo-se ainda, Cristo salvando-nos ainda. A cada Missa celebrada, uma chama do Cenáculo se acende no tempo.
Cristo nos ama na Eucaristia. E onde está a Eucaristia? Onde ela é sacrifício? Onde ela é confeccionada, onde ela é distribuída? Na Santa Missa. Não existe Missa sem Eucaristia. A Missa é a guardiã do Novo e Eterno Testamento do Senhor Jesus: a Santíssima Eucaristia.
Não há coisa neste mundo que o demônio deteste mais do que a celebração da Santa Missa — de uma Missa católica, verdadeiramente católica, plenamente católica. Nela está contido o Testamento do amor de Deus pelos homens. Infelizmente, nós nos rendemos ao demônio e menosprezamos a grandeza do Santo Sacrifício da Missa.
É, meus caros, de se lamentar a postura que tantas vezes assumimos em relação à Santa Missa. A cada toque do sino, o céu se inclina. Os anjos se curvam, os santos se unem, o Calvário se faz presente! E nós, que deveríamos estar prostrados com temor e amor, entramos com atraso, nos distraímos com os olhos, conversamos como se estivéssemos num mercado, resmungamos como se fôssemos donos do tempo. Deveríamos perguntar à nossa alma: que gelo te endureceu? Por que não tremes diante do Deus que se entrega de novo, sob os véus humildes do pão e do vinho?
Como podes cochilar diante do Cordeiro que foi imolado por ti? Os mártires chorariam ao ver nossa frieza. Os anjos velariam seus rostos vendo tua indiferença.
Ó Jesus Eucarístico, que paciência tens conosco!
Suportas nossos bocejos, nossas distrações, nossos olhares vagos,
como suportaste os cravos, os escarros e os açoites. Desperta, meu amigo!
Volta os olhos ao altar, sacode o torpor, rasga os véus da rotina! Pois cada Missa é um novo Gólgota, e cada comunhão, um novo Belém — onde o Verbo se faz carne para ti,
para ti, que tantas vezes nem te lembras de agradecer. Perdoa, Senhor, este povo que não sabe o que comunga!
Devemos, meus amigos, tratar a Santa Missa com o máximo respeito: ela é a guardiã do Testamento do Senhor.
Infelizmente, não são apenas as nossas indelicadezas pessoais que desonram este belo Sacramento do amor de Deus. A Liturgia do Altíssimo, do Santo dos Santos, foi atacada.
O Senhor confiou o Seu Testamento aos muros vivos da Liturgia Santa, que ao longo dos tempos se ergueu como muralha sagrada em torno da Eucaristia. Cada século lançou uma pedra, cada Concílio acrescentou um canto, cada santo adornou com lágrimas, sangue ou louvor esse edifício invisível e eterno: a Missa Católica, herança dos apóstolos, monumento da fé, sacrário do amor de Deus. E assim, geração após geração, a Esposa de Cristo, com o zelo de quem guarda as joias do Coração do Esposo, edificou com o ouro da Tradição e o perfume da veneração a Liturgia que não é nossa, mas d’Ele. Porque é d’Ele o Corpo, d’Ele o Sangue, d’Ele a Palavra, d’Ele o Sacrifício, d’Ele o Testamento!
Mas vieram os séculos das sombras, veio o homem moderno e os teólogos da nova fé! Como outrora os juízes de Israel condenaram o Justo, também agora os doutos do nosso tempo julgaram indigna a guarda do Testamento! Condenaram à morte os muros que guardavam o Mistério, desfizeram os véus que escondiam o Santo dos Santos, e chamaram luz aquilo que é pura treva. Consideraram que a Liturgia de sempre da Igreja Católica era de mais, distante demais, misteriosa demais. Em nome do ecumenismo, da participação ativa dos fiéis e do aggiornamento, retiraram do Culto de Deus tudo aquilo que representasse a menor sombra de tropeço, para que os não católicos pudessem admirar a nossa liturgia.
Se ao menos — se ao menos! — a reforma tivesse sido feita para inflamar a fé dos fiéis, para dar ao Testamento de Cristo a reverência dos anjos, para avivar o temor sagrado que encheu os corações dos santos! Mas não... foi feita para ser menos católica e mais ecumênica, menos divina e mais participativa, como se Deus precisasse do nosso palpite e não do nosso joelho dobrado!
Substituíram o altar por uma mesa, o presbitério por um palco, o silêncio pela conversa, o incenso pela palminha, o sacrifício pela ceia, a adoração pelo ativismo, e o sacerdote — alter Christus — por um animador de assembleia! Retiraram-se os véus, os genuflexórios, o latim, os sinos, os mistérios… tudo aquilo que guardava com zelo o Novo e Eterno Testamento foi lançado fora como trapo velho, como se o amor que nos amou até o fim estivesse, agora, antiquado!
E o que restou, irmãos? Restou uma Eucaristia tratada como objeto comum, tocada por mãos que não praticam as obras do arrependimento, recebida sem temor, adorada por poucos, esquecida por muitos. E como pode haver eficácia no Sacramento, quando falta a fé? Como pode haver salvação nas almas, quando não há mais sacralidade nos altares?
É um sinal da vitalidade da Igreja quando a piedade pela Eucaristia é intensa. A Igreja conheceu os seus períodos mais fecundos quando prestou profunda veneração e adoração à Santíssima Eucaristia. Por outro lado, deve-se dizer que o desrespeito para com a Eucaristia é um sinal de decadência e crise na Igreja. Se a Igreja está em crise hoje, é, dentre outros motivos, porque a Eucaristia não é mais venerada corretamente.
Enquanto o Testamento do Senhor — a Eucaristia — for tratado com práticas que diminuem a fé da Igreja sobre o que é a Santa Missa e a Eucaristia, não haverá verdadeira renovação da Igreja. A renovação da Igreja exige, necessariamente, o abandono da liturgia reformada e o retorno à Liturgia que foi formada dentro da fé católica — só como católica — para ser a guardiã do Novo e Eterno Testamento: a Sagrada Eucaristia. O gesto mais sublime que podemos fazer pela Igreja hoje, como prova de amor, é aderir de toda mente e de todo coração a uma liturgia plena e autenticamente católica, a uma devoção eucarística profunda, sem concessões às dualidades religiosas e sem inovações.
E que não venha a desculpa de que existem Missas reformadas muito piedosas por aí! Não se exige um mínimo, mas um máximo de culto de devoção e adoração interior e exterior em relação à Eucaristia. Seria um ultraje ao Testamento do Amor de Deus pensar de outra maneira. Enquanto a Missa for celebrada de frente para os fiéis, de costas para Deus; enquanto a Comunhão for dada e recebida na mão; enquanto os leigos forem clericalizados e desempenharem funções sacerdotais; enquanto a liturgia não recuperar sua língua sagrada e não houver acesso aos textos antigos e veneráveis do Missal Tridentino, não haverá Missa piedosa. A comunhão na mão não é piedosa, o vernáculo não é piedoso, o padre de frente para o povo não é piedoso. Tudo isso é ecumênico — do mais moderno ecumenismo — que é mais sincretista do que qualquer outra coisa.
E nós, o que faremos nesta noite? Vamos também dormir, como os discípulos no Getsêmani, enquanto a Eucaristia é traída em nossas igrejas? Façamos o firme propósito de nunca mais ceder a um rito que diminua a excelência da Eucaristia! Façamos uma adesão verdadeira, não sentimental, ao culto tal e qual a Igreja sempre celebrou ao longo dos séculos. Guardemos a Missa católica, rejeitemos a nova fé moderna, a nova liturgia moderna, que diminuíram a catolicidade do culto antigo, que destruíram os muros que protegiam o Testamento do Senhor.
O Espírito Santo concederá graças especiais para a renovação da Igreja do nosso tempo, quando o Corpo Eucarístico de Cristo for adorado com todas as honras devidas à sua Divindade; quando for amado, cuidado, verdadeiramente defendido como o Santíssimo. São Tomás escreve no hino Sacris solemniis: “Assim como nos visitais, nós vos honramos” (sic nos tu visita, sicut Te colimus). Podemos afirmar sem hesitação: Senhor, visitarás a tua Igreja com graças especiais para a sua renovação, na medida em que a prática da comunhão na mão for reduzida, e nós te oferecermos atos de reparação e de amor; na medida em que a Liturgia católica reencontrar seu esplendor — não quando for ecumênica, mas quando for, de fato, católica.
Chegará o dia em que os fiéis receberão, em todas as igrejas católicas, o Senhor Eucarístico, velado sob a aparência da pequena hóstia consagrada, no gesto bíblico de adoração — de joelhos e abrindo a boca como uma criança — sendo nutridos por Cristo pela mão dos sacerdotes, com espírito de humildade e pureza de coração. Este dia dará lugar, sem dúvida, a um autêntico aggiornamento, a uma verdadeira renovação da Igreja.
Jesus, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim!
A Eucaristia é o testamento do amor de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A Missa é a guardiã deste testamento.
A maneira como celebrarmos e assistirmos à Santa Missa será a nossa resposta de amor a Deus.
A maneira como os fiéis recebem a Sagrada Comunhão e a maneira como a Igreja celebra o Santo Sacrifício da Missa revelam se a Eucaristia é para eles, ou não, a realidade mais sagrada — mas também, e sobretudo, a pessoa mais amada e santa.