Miguel: o grito de guerra do céu

Sermão

Padre Lucas Altmayer, 29/09/2025 20:52

Caríssimos fiéis,

Ao longo da história da salvação, Deus quis manifestar Seu poder e Sua glória não apenas diretamente, mas também através dos santos anjos. Entre eles, São Miguel ocupa lugar singular. O Senhor o enviou como protetor do povo de Israel e, mais tarde, confiou-lhe a guarda do novo Israel, que é a Santa Igreja Católica. Sua missão atravessa os séculos e permanece atual: defender os fiéis contra os inimigos invisíveis, conduzir as almas no momento decisivo e proclamar a glória de Deus.

Para compreendermos a grandeza da devoção a São Miguel, é preciso recordar que o papel de todo anjo é tríplice: adorar, mediar e proteger.

            Primeiro: o anjo é adorador. A essência do ser angélico é a contemplação e a adoração. Antes de qualquer missão exterior, o anjo vive voltado para Deus, prosternado diante do trono do Altíssimo. Foi exatamente assim em Fátima: quando o Anjo apareceu aos três pastorinhos, a primeira palavra que lhes dirigiu foi um convite à adoração — “Rezai comigo, adorai”. Eis a função primeira dos anjos: ensinar os homens a adorar.

E aqui está o exemplo de São Miguel: ele é o adorador por excelência. Quando Lúcifer se levantou contra Deus, São Miguel ergueu o brado que ecoa até hoje: “Quem como Deus?”. Sua própria existência tornou-se uma resposta ao orgulho do inferno. Miguel não apenas adorou, mas defendeu a honra de Deus contra a revolta. Por isso seu nome não é apenas um nome: é um grito de guerra, um estandarte erguido contra o dragão.

No princípio, antes que houvesse tempo, os anjos foram criados perfeitos em sabedoria, esplendor e liberdade. E foi nessa liberdade que se travou a primeira batalha.

Um dos maiores, Lúcifer, resplendente em luz, quis usurpar a glória que só pertence a Deus. Elevou-se contra o Altíssimo, desejou ser igual ao Criador. E quando o orgulho se levantou, quando a revolta começou a envenenar os coros angélicos, eis que um outro espírito, mais humilde, mais forte, mais fiel, ergueu a voz. Não era o mais poderoso segundo a hierarquia; não era o mais brilhante na aparência. Mas foi o mais adorador.

Esse anjo, Miguel, não se apoiou em sua força, nem em sua glória, mas apenas na verdade eterna: “Quis ut Deus?” – Quem como Deus?

Naquele brado, não havia diplomacia, não havia negociação. Havia guerra. E o céu inteiro estremeceu. Lúcifer, o portador da falsa luz, foi precipitado, não por causa do poder bruto de Miguel, mas por causa de sua adoração perfeita, de sua fidelidade total. Miguel venceu porque não buscou a si mesmo, mas só a glória de Deus.

Aí está a lição viril e eterna: o adorador verdadeiro não é um passivo contemplador, mas um combatente. Quem adora de verdade, combate o inimigo. Quem se curva diante de Deus, ergue-se contra o demônio. Quem proclama a grandeza do Altíssimo, esmaga o orgulho do inferno.

São Miguel nos mostra que a verdadeira força nasce da humildade diante de Deus. Ele não disse: “Eu vencerei Lúcifer”, mas: “Quem como Deus?” Ele não colocou seu nome como bandeira, mas o Nome de Deus como estandarte.

Eis, irmãos, o segredo da vitória espiritual: ser adorador antes de tudo. A batalha de Miguel não terminou no céu; continua hoje na terra. Cada vez que nos ajoelhamos diante do Santíssimo Sacramento, estamos repetindo com Miguel: “Quem como Deus?” Cada vez que resistimos a uma tentação, que rejeitamos o orgulho, que preferimos obedecer à vontade divina e não à nossa, estamos combatendo ao lado do Arcanjo.

O demônio ruge, esperneia, ameaça; mas diante de um homem que adora verdadeiramente, ele não tem poder. Porque o adorador é forte, e o adorador é militante. Miguel não é apenas um nome: é um combate. Seu grito ressoa nos céus e deve ressoar em nossos corações.

Segundo: o anjo é mediador. Ele traz aos homens as mensagens divinas e leva a Deus as súplicas humanas. O anjo é ponte entre o Céu e a terra. Eis o ministério ascendente e descendente dos anjos. No Santo Sacrifício da Missa, isto se manifesta de modo sublime. Basta recordarmos a antífona do ofertório da Missa de Requiem: “Senhor Jesus Cristo, Rei da glória, livrai as almas de todos os fiéis defuntos das penas do inferno e do profundo abismo: livrai-as da boca do leão, para que o inferno não as devore, nem caiam nas trevas; mas que o estandarte santo Miguel as conduza à luz santa, que outrora prometestes a Abraão e à sua descendência”.

E que dizer de São Miguel? A Tradição o apresenta como o grande mediador das almas no momento da morte. Ele é o responsável por apresentá-las ao trono divino, para que recebam a sentença eterna. Ele não é apenas mensageiro; é o condutor das almas, aquele que acompanha os justos ao tribunal de Cristo, para que recebam misericórdia, e aos ímpios, para que se cumpra a justiça.

Terceiro: o anjo é protetor. Deus confiou a cada um de nós um anjo da guarda. Ele nos inspira, nos defende, nos fortalece nas tentações. Mas São Miguel, príncipe da milícia celeste, exerce esta proteção de modo universal: não substitui nosso anjo particular, mas é o chefe do exército celeste que guarda o novo Israel. Ele é o protetor da Igreja, aquele que luta contra o dragão infernal ao lado da Mulher vestida de sol, figura de Maria Santíssima e da própria Igreja.

Eis, portanto, o papel singular de São Miguel. Ele é adorador, porque defendeu a glória divina contra a soberba do demônio. Ele é mediador, porque conduz as almas no momento decisivo do juízo particular. Ele é protetor, porque guia e defende a Igreja, o povo eleito, até a vitória final.

Meus caros, a devoção a São Miguel não é um enfeite devocional, nem um detalhe periférico da vida espiritual. Ela é um sinal de predestinação, um escudo necessário para quem deseja vencer as ciladas do inimigo. Ou combatemos com São Miguel, expulsando o demônio pelo grito de guerra da fidelidade a Deus, ou seremos derrotados pelo inimigo eterno.

Que cada um de nós, ao pronunciar o nome de São Miguel, repita interiormente aquele brado que derrubou Lúcifer e que ainda hoje sustenta a Igreja: Quem como Deus? Ninguém como Deus!