Habemus Papam!

Padre Lucas Altmayer, 10/05/2025 19:24

          Habemus Papam! Foi com estas palavras que toda a cristandade ouviu o anúncio que é causa de grande alegria para todo o coração católico! De fato, o Cardeal Proto-diácono nos disse: “Anuntio vobis Gaudium Magnum”. Gaudim Magnum. É grande a nossa alegria! Muito grande. Pois ao ouvirmos o rugissante  nome escolhido para si pelo Cardeal Prevost, Leão, e aos vermos a figura, forte e emocionada, do ducentésimo sexagésimo sétimo sucessor de Pedro, exultamos de uma alegria imensa e de um consolo tremendo.

É uma ocasião propícia para meditarmos sobre a nossa fé no papado. São Pedro foi instituído por Jesus Cristo Nosso Senhor, como o primeiro chefe visível da Igreja que Jesus, Ele mesmo, fundou: “Eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”.

                A Igreja é, portanto, uma instituição divina, embora nossos contemporâneos afirmem que Jesus nunca fundou uma Igreja. Analfabetos funcionais, ou maliciosos? Um pouco de cada talvez, mas se Jesus disse “sobre ti eu fundo a minha Igreja”, é porque Ele fundou uma Igreja.

                E como sabemos se pertencemos a Igreja que Jesus Cristo fundou? Se professamos os mesmos sacramentos, se acreditamos na mesma doutrina e se estamos submissos à autoridade daqueles que governam legitimamente a Santa Igreja de Cristo.  Há 2 mil anos esta Igreja permanece unida e governada pelo legítimo Sucessor de Pedro, o Papa.

                A missão do Papa é a de garantir a unidade dos fiéis, confirmando-os na fé da Igreja.

                Se o Papa, em seu ensinamento, foi revestido de uma autoridade infalível, sob algumas condições, é justamente para que, ao ensinar dentro destas condições, ele possa confirmar plenamente os fiéis na fé católica, já que neste caso todos deveriam reconhecer e aderir plenamente ao que é ensinado.

                Nós vemos com muita clareza, na história da Igreja, que a missão do papa é unir, confirmando pela fé. A cada vez que o Papa deixou de realizar esta missão de unir pela fé, a Igreja conheceu seus momentos de crise.

                É importante nos confundirmos, caríssimos, a infalibilidade com a impecabilidade. O Papa não é alguém que não peca. Ainda que, quando peque cause mais mal do que um simples fiel ou leigo. Mas não é porque ele é pecador que ele deixa de ser Papa. Houveram Papas na história da Igreja que mancharam vergonhosamente o trono de Pedro. Isso é triste e muito feio, com certeza, mas não foi isso que comprometeu a missão da Igreja ao longo dos séculos. Ainda que pecadores, muitos Papa realizaram a sua missão de confirmar o orbe católico na fé católica. E isso sempre manteve a Santa Igreja unida. E talvez é justamente isto o que nos alegra e nos enche de esperanças diante da eleição do Papa Leão XIV: talvez o seu Pontificado apague as grandes confusões do pontificado passado, talvez o Papa voltará a ser sinônimo da fé católica e confirmará mais uma vez os cristãos na fé revelada, da qual ele foi constituído guarda e defensor.

                O que prejudica a unidade da Igreja é a falta de clareza no ensinamento da fé e da moral da Igreja. Não é o que se diz do Papa que une a Igreja, é o que o Papa diz que une ou divide. Não é o que se pensa dos bispos, mas o que eles ensinam, que prejudica, ou não, a comunhão eclesial. O papa não é bom porque a mídia o diz. O papado, caríssimos, não tem como parâmetro de sucesso a reputação que o Santo Padre tem diante do mundo, ainda mais se este mundo for perverso e corrompido, como nossa sociedade atual. O sucesso do papado depende da fidelidade do Sumo Pontífice em confirmar na fé católica, pelo exemplo, mas sobretudo pela doutrina, o mundo católico.

                Assim sendo, podemos dizer que há, sem sombra de dúvidas, papas que foram melhores do outros. Os piores são os que deixaram de confirmar com clareza, pela doutrina e pela conduta em acordo com a doutrina, os católicos na fé. Os melhores são os que, com a doutrina e a santidade de vida, puderem realizar bem a missão que receberam de Deus.

                Os católicos devem ter amor ao Papa, respeitando-o, rezando por ele, pedindo a Deus que o faça fiel a missão que recebeu: confirmar os filhos de Deus na fé católica. Ter devoção ao papado é uma bela característica dos católicos. Não quer dizer ser papista, mas quer dizer amar esta instituição tão sublime fundada por Deus. E aqui, do amor ao Papa, dois erros podem surgir:

                O primeiro, é a negação do papado. Essa negação consiste em ver o papado como uma fundação humana, e não divina, que pode ser destruída pelos homens. É a base do sedevacantismo, que nega a origem divina do papado. Se Deus instituiu o papado, se ele é divino, e se Ele prometeu que as forças do inferno não destruíram esta Igreja fundada sobre esta instituição divina, o papado, como supor que alguém poderia, de fato, destruir esta instituição? Se os homens pudessem retirar o ponto de unidade, que Deus instituiu, onde estaria o poder divino?

                O sedevacantismo é a doutrina que ensina a considerar como vazia, a Sé de Pedro. Doutrina capenga e deficiente, que confunde argumentos teológicos, não sabendo, ou não querendo, distinguir os graus de magistérios, nem os graus de assentimento devidos a cada um. Doutrina orgulhosa que, ao retirar o Papa como ponto de unidade, coloca outras referências como sendo o ponto de união entre os católicos. Todo sedevacantista acaba achando um guru para se tornar seu  “papa”. Isso se o dito cujo em questão não se considerar, ele mesmo, o papa.

                O sedevacantismo não encontra soluções, a não ser esperar uma segunda revelação do Cristo, o que é heresia, claro. A revelação de Nosso Senhor terminou com a morte do último apóstolo e não haverá outra até os fins dos tempos. Foi para a nova e eterna aliança que Nosso Senhor veio.

                Se o sedevacantismo vem pela negação do amor devido ao Papado, um outro erro vem pelo falso exagero de amor. É o que poderíamos chamar de papismo, que consiste quase que em um culto de personalidade do papa.

                Amar o papa quer dizer amar o papado inteiro, e não pensar em conformidade com a mídia: tal papa eu amo e tal papa eu não amo. Não, nós amamos o papado e rezamos pelo atual pontífice, seja ele quem for. Assim como o mandamento mandar honrar pai e mãe, e não só o pai ou só a mãe, independentemente que venhamos a preferir o pai ou a mão.

                Não colocamos divisões, eu sou de São Pio X, eu sou de Bento XVI, eu sou de Francisco e eu sou de Leão XIV. Assim como os apóstolos nos ensinaram a não dizer: “eu sou de Paulo, eu sou de Pedro”, assim não devemos ser de um papa ou de outro. O erro papista consiste, justamente, em exaltar um papa mais do que outro, por questões ideológicas. Como dizia Dom Bosco, devemos sempre dizer Viva o Papa, independente de quem ele seja. É o papado que amamos. É o papado que nos une.

                Um bom católico ama e trata com respeito todos os papas, ainda que possa sentir mais simpatia por um do que por outro.

                A solução para ambos os erros é um amor ordenado ao papado: não confundir infalibilidade com impecabilidade. Não pensar que uma instituição divina pode ser destruída por obras humanas. Não fazer do papa um objeto de culto de personalidade, ou de ideologia.

                Meus caros, já nos alegramos, já entoamos cânticos e orações diante da notícia jubilosa: Habemus Papam — Leão XIV. Mas que seja esta alegria fecunda, e não estéril; que não se perca em lágrimas doces e emoções passageiras, mas que se converta em atos, em obras, em fé católica que só existe se existem as obras!

Por isso, inspirado pelos santos, pelos doutores e pelos mártires que amaram até o fim a Cátedra de Pedro, permiti-me deixar três conselhos, três pedras preciosas com que podeis edificar um trono interior para este novo Vigário de Cristo em vossas próprias almas.

Primeiro conselho: Agradeçamos a Deus.

Não é obra dos homens, mas desígnio da Providência, que hoje resplandece na Igreja a figura de Leão XIV. A Igreja recuperou a sua normalidade estrutural, não estamos mais órfãos e as portas do inferno não prevaleceram.

Segundo conselho: Rezemos por ele, todos os dias.

Sim, todos os dias, sem cessar. Porque, embora Deus seja rico em misericórdia e transborde em graças, Ele, na sua misteriosa economia de amor, quis vincular essas graças às súplicas dos seus filhos. Toda, absolutamente toda a ajuda que Leão XIV precisa — fortaleza, discernimento, humildade, luz — Deus a quer dar. Mas quer dá-la em resposta à oração da Igreja. Se não rezamos, faltam as chaves para abrir os tesouros do Céu. Se rezamos, sustentamos o Papa como Arão e Hur sustentaram os braços de Moisés (cf. Ex 17,12).

Terceiro conselho: Não o julguemos.

Ah, que tentação sutil essa de olhar para trás e lembrar-se do Cardeal Prevost! Mas esquecemo-nos de que o tempo da eleição é um Pentecostes silencioso. O homem que ontem caminhava entre os homens, hoje carrega sobre si o peso das chaves do Reino. Ele não é mais o homem: é o Papa. Não o julgueis, não o dissequeis, não o reduzais ao que foi. “Non amplius homo, sed pontifex.” Não é o passado dele que governa a Igreja; é a graça presente, é o Espírito Santo que nele opera. Onde o mundo vê um nome, a fé vê um título sagrado: Leão XIV, Pontífice Máximo, servo dos servos de Deus.