Fora da Igreja Não existe salvação

Padre Lucas Altmayer, 30/08/2025 12:54

Nosso Senhor hoje nos conta a parábola do Bom Samaritano. Um homem descia de Jerusalém a Jericó. Foi assaltado, espancado, deixado quase morto à beira da estrada. Passam por ele o sacerdote e o levita, homens da lei, homens do culto, mas não lhe estendem a mão. Finalmente, um samaritano, estrangeiro, desprezado, move-se de compaixão, derrama óleo e vinho em suas feridas, o coloca sobre a cavalgadura, leva-o à hospedaria e paga por sua cura.

À primeira vista, dir-se-ia que esta parábola é apenas uma exortação moral à caridade universal. Mas Nosso Senhor, que não diz uma palavra sequer sem profundidade infinita, quis aqui nos ensinar o próprio mistério da salvação, o dogma imutável proclamado pela Igreja: fora da Igreja não há salvação (extra Ecclesiam nulla salus).

O homem que desce de Jerusalém a Jericó representa a humanidade que se afastou de Deus. Jerusalém é a Cidade Santa, símbolo da graça e da amizade com Deus. Jericó, ao contrário, é a cidade baixa, símbolo do mundo, da carne, do pecado. Quem se afasta de Deus acaba inevitavelmente caindo nas mãos dos ladrões: o demônio, o pecado, a morte. Este homem espancado e quase morto somos nós, filhos de Adão, feridos pelo pecado original e incapazes de nos salvar por nossas próprias forças.

O sacerdote passa, olha e passa adiante. O levita também. Representam a Antiga Lei, os cultos antigos, as religiões humanas, que por mais esforço que tenham, não conseguem devolver a vida da graça à alma caída. Quantos hoje confiam em falsas religiões, filosofias, espiritualidades sem Cristo e sem a Igreja! Elas podem até tocar as feridas, mas não as curam; podem até falar de virtude, mas não dão a vida eterna.

Quem, então, pode salvar? O samaritano da parábola é figura de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele, o desprezado, o rejeitado por muitos, é o único que se aproxima de nós, se compadece de nós, derrama em nossas feridas o óleo e o vinho: os sacramentos, que curam a alma, que restituem a graça. Ele nos cura com a dureza de sua doutrina, representada pelo vinho, e com o consolo da sua graça, dada pelos sacramentos, representada pelo óleo.

Ele é aquele que nos levanta, nos põe sobre sua montaria — sua graça e sua cruz — e nos conduz ao lugar seguro.

Ele o conduz a uma hospedaria. Essa hospedaria é a Igreja Católica, Una, Santa, Católica e Apostólica, fundada sobre a rocha de Pedro. Só nela se encontram os remédios eficazes da graça, os sacramentos, a doutrina reta, a vida sobrenatural. Fora desta hospedaria não há segurança: só nela o pecador é curado, alimentado e fortalecido para alcançar a pátria eterna. É nela, e somente nela, que o homem ferido encontra a casa, o abrigo, o alimento, os cuidados até o retorno definitivo do Senhor. O samaritano deixa pago o preço da hospedagem — preço do nosso resgate, pago com o Seu Sangue na Cruz — e promete voltar. Eis a promessa da Sua segunda vinda.

Caríssimos, a conclusão é clara: o homem só se salva porque é levado à hospedaria. Se permanecesse caído na estrada, morreria. Se o samaritano o tivesse deixado em qualquer outro abrigo, sem cuidados verdadeiros, também não sobreviveria. A hospedaria é a Igreja. E o dogma ressoa com toda sua força: fora da Igreja não há salvação.

A este hospedeiro, figura do Santo Padre, Vigário de Cristo na terra, o Senhor confiou o cuidado das almas até a sua volta gloriosa. O Papa, sucessor de Pedro, é aquele a quem Cristo entregou as chaves, a quem confiou o poder de ligar e desligar, de apascentar as ovelhas e guardar a unidade. Rejeitar o Papa, desdenhar da Igreja, é rejeitar a vontade explícita do próprio Cristo.

Cristo deixa ao hospedeiro duas moedas de prata: são os tesouros da graça, os sacramentos e a doutrina, pelos quais Ele mesmo sustenta a sua Igreja. E promete: “Na minha volta, eu te pagarei”. Ou seja, Cristo pedirá contas de como a Igreja cuidou das almas, mas a todos garante: é dentro dela que se encontra o remédio, e não fora dela.

Eis a grande lição, caríssimos: extra Ecclesiam nulla salus. Quem se obstina em ficar fora da hospedaria, quem despreza a Igreja, quem recusa sua doutrina e seus sacramentos, permanece ferido de morte, abandonado na estrada do pecado. Pode haver virtudes humanas, pode haver boas intenções, mas não há vida eterna sem a Igreja de Cristo.

Amemos, pois, esta Santa Mãe que é a Igreja! Amemo-la com amor filial, mesmo quando vemos nela a pobreza de seus filhos. Defendamos sua honra, obedeçamos à sua voz, alimentemo-nos de seus sacramentos. Quem ama a Igreja ama Cristo; quem despreza a Igreja despreza Cristo. E quem permanece fiel a ela, ainda que sofra, caminha seguro para a pátria celeste.

É um grande sinal que distingue os predestinados: um amor a Igreja, dispensadora da graça e da verdade. Os santos, os eleitos de Deus, se enchem de alegria ao pensar que são filhos da Igreja e sentem por ela todo tipo de respeito e amor de um filho para com a melhor das mães. A falta de respeito e de veneração pela Igreja é um grande sinal de reprovação, isto é, condenação.

Assim, meus filhos, olhemos hoje para a parábola do Bom Samaritano e reconheçamos: Cristo nos encontrou caídos, mas quis salvar-nos conduzindo-nos à hospedaria da sua Igreja. Sejamos gratos por estar dentro dela e rezemos, com lágrimas de caridade, por tantos que estão de fora, para que entrem também na hospedaria da vida eterna.