A iniquidade do dinheiro: cuidado!

Padre Lucas Altmayer, 23/08/2025 16:55

Queridos amigos,

            Os bens que possuímos neste mundo devem se reverter em guarda da nossa fé.

            No Evangelho de hoje, Nosso Senhor Jesus Cristo nos lança uma advertência que corta como espada: “Fazei amigos com o dinheiro da iniquidade, para que, quando ele vier a faltar, vos recebam nos tabernáculos eternos.”

Dinheiro da iniquidade. Que expressão forte, terrível,  e, de uma certra maneira, escandalosa. Mas para quem ela é um escândalo? Se nós crermos que Jesus estaria nos ordenando ao pecado, seria um escândalo para todo homem, sobretudo para os fiéis. Mas isso jamais seria possível!

Esta frase é, então, um para os ouvidos tíbios dos mundanos! Nosso Senhor não mede palavras. O ponto central é compreendermos ao que Jesus está se referindo quando ele nos manda fazer amigos com o dinheiro da iniquidade.

Na verdade, todos os bens deste são, de algum modo iniquidade. Quando Jesus nos manda fazer amigos com o dinheiro da iniquidade, Ele chama de iniquidade tudo aquilo que neste mundo é perecível, tudo aquilo que o homem cobiça, tudo o que passa — riquezas, poder, vaidades, glórias humanas. Não porque essas coisas sejam más em si mesmas, mas porque são transitórias, e o coração do homem que a elas se apega, se perde com elas. Tudo o que não é eterno, tudo o que morre com o tempo, é iniquidade para aquele que foi criado para a eternidade.

Jesus nos diz: “Fazei amigos com o dinheiro da iniquidade”. O que Ele quer dizer? Quer dizer: aprendei a viver neste mundo sem ser dele. Aprendei a tocar nas coisas criadas sem deixar que elas toquem vossa alma. Aprendei a usar dos bens deste mundo como um viajante usa de um cajado: não para abraçá-lo como um tesouro, mas para apoiar-se nele enquanto caminha para o Céu.

O dinheiro da iniquidade é tudo o que nos serve de meio para chegar ao fim último. A casa que habitais, a comida que vos sustenta, o vestuário que vos cobre, até o dinheiro que ganhais: não vos pertencem! São instrumentos, ferramentas, e no dia da vossa morte, quando tudo isso vos for arrancado das mãos, o que restará? Se vos apegastes a essas coisas como senhores, sereis encontrados mendigos na eternidade. Mas se as usastes como servos de Deus, então sim: sereis recebidos nos tabernáculos eternos.

No Evangelho de hoje, Nosso Doce Salvador nos ensina que a avareza pode nos fazer perder os frutos da fé. Como é feia a avareza.

Ora, a avareza, sendo o desejo exagerado de possuir riquezas, peca por excesso, de dois modos. Primeiro, retendo imoderadamente, e, por aí, ela gera a obduração, contrária à misericórdia, que nos torna de todo estranhos à brandura da compaixão e indiferentes a socorrer os miseráveis com as nossas riquezas. – Em segundo lugar, é próprio da avareza adquirir bens imoderadamente. E, a esta luz, ela pode ser considerada de dois modos. –­ Primeiro, relativamente à afeição. E então dela nasce a inquietude, que desperta em nós solicitude e cuidados supérfluos; pois, como diz a Escritura, o avarento nunca jamais se fartará de dinheiro. – Segundo, relativamente ao efeito. E, então, o avarento, para adquirir o alheio, às vezes emprega a força, o que constitui a violência; outras vezes recorre ao dolo. E este, se for verbal, chama–se falácia, que supõe simplesmente o emprego de palavras; se essas palavras forem confirmadas com juramento, tem lugar o perjúrio. Mas, se o dolo for cometido por obras, haverá fraude, e se tratar de uma causa; si se tratar de pessoas, terá lugar a traição, como bem o demonstra o caso de Judas, que por avareza traiu a Cristo.

Fazer amigos com o dinheiro da iniquidade é praticar a caridade com os bens deste mundo. É transformar o ouro corruptível em tesouro incorruptível. É evitar o terrível pecado da avareza que, nos fazendo fixar nosso coração nos bens da terra, nos distancia do fim último da nossa vida. Não vivemos para aquilo que o dinheiro pode nos dar. Vivemos para aquilo que a “a traça e a ferrugem não corroem, e aquilo que os ladrões não roubam” (Mt. 6, 19) o céu, nossa cara pátria.

O Evangelho de hoje nos ensina que podemos perder o fruto da nossa fé, a vida eterna, se nos apegarmos aos bens deste mundo! Ai de nós, ricos do mundo, que nos julgamos senhores do que é emprestado! Ai de nós, que construímos palácios na terra e não temos morada no Céu! Ai de nós, católicos mundanos, que nos embriagamos com os prazeres e esquecemos que seremos julgados! De que nos servirá o dinheiro quando ele nos faltar, quando vier a morte e tudo que acumulamos se tornar pó e ferrugem?

Não vos iludais: tudo nesta terra é iniquidade, se dela fizerdes um fim em si mesmo. O dinheiro, os bens, os prazeres lícitos — tudo é iniquidade se vos prende à terra. Mas tudo isso pode ser caminho de santificação, se fordes senhores e não escravos.

Jesus não nos manda desprezar o que temos, mas nos manda pôr tudo em ordem: Deus em primeiro lugar, e as criaturas como instrumentos a serviço da nossa salvação. Quem faz do dinheiro um senhor, torna-se escravo. Quem faz do dinheiro um servo, liberta-se para a eternidade.

No dia da vossa morte, o dinheiro da iniquidade vos faltará, ou seja, nenhum bem deste mundo será levado conosco. Então, a única moeda que terá valor será a fé que praticamos, as obramos de caridade exercidas, a generosidade que exercitamos. Essas serão as portas que se abrirão — ou que se fecharão.

Portanto, meus irmãos, vivei neste mundo como estrangeiros, passai pelas coisas criadas sem vos deixar prender. Usai do dinheiro, mas não vos deixeis usar por ele. Tocai nas riquezas, mas com mãos de quem já não as possui. Porque tudo vos será tirado — e só vos restará aquilo que destes por amor a Deus.  "Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde os ladrões arrombam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não arrombam nem roubam. Pois onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração." Lá aonde estiver o nosso coração, lá estará a nossa eternidade.

Fazei amigos com o dinheiro da iniquidade, disse Jesus. Isto é, utilizemos dos bens deste mundo, mas que, quando a morte soar e eles nos vierem a faltar, eles tenham sido nossos amigos, e não nossos condenadores, e assim nos façam entrar nas moradas eternas do céu.